Conversamos um pouco mais a respeito do texto "olhar cego" no encontro do dia 8 de agosto. Me marcou questões a respeito da "Empatia torácica".
"Quando olho para alguém, quando estou com alguém, o que quer que faça, há uma superposição de nossas caixas torácicas, de nossa respiração. (...) O espectador está tranquilamente sentado, olha alguém que corre. Jannerod se da conta de que quando o corredor acelera, o espectadora acelera a sua respiração. Quando anda mais lento, a respiração se faz mais lenta."
Acredito que podemos relacionar esse comentário de Godard, com vários momentos vida; porém eu vou relacionar com, por exemplo, momentos em que nos apaixonamos. Num simples abraço percebo uma pequena dança de conexões de respiração que me traz uma sensação de afeto. Em oposição a isso, temos o gesto de Cunninghan que para aparecer o movimento a figura, busca uma "não afetação", criando um distanciamento.
Por experiência própria relacionei tal comentário com as artes-marciais também. Nas artes-marciais nipônicas a respiração é uma via para tentar entender e prevê a ação do oponente. Existe um termo em japonês "Kokyu wo awaseru", que significa conectar a respiração, ou, essa busca da conexão. Se você consegue sentir a respiração do outro, você consegue prever a ação ou atitude do outro. E isso é exatamente o que quem luta procura esconder. A respiração causa pequenos movimentos no corpo e quando há uma batalha de dois mestres, as grandes ações dão lugar a momentos de silêncio e de uma constante leitura gestual."Quando duas pessoas se encontram os jogos dos micro movimentos da caixa torácica formam um diálogo." E isso não é diferente no amor, na paquera, na small dance, entre outros.
Essa constante busca pela leitura do outro, cria-se um lugar de presença. Faço relação com a neurose do olhar e perspectiva que Godard fala. A idéia de ter um ponto de fuga sugere um olhar sobre o mundo, de um tempo e espaço. Me fascina pensar e sentir em mim, momentos em que estou com um olhar cristalizado, perceber isso já abre muitos caminhos. O Rodrigo trouxe uma imagem interessante a respeito da neurose do olhar: "o cachorro que corre atrás do próprio rabo". Se cristalizamos um único olhar, fica difícil surgir um gesto transformador e espontâneo, ( já introduzindo a entrevista de Benilton Bezerra). A Dani complementou que a neurose não perpassa somente pelo olhar, mas existem essas "couraças" pelo corpo inteiro. Ela perguntou a mim, se a minha miopia não seria um agente determinante de como eu percebo a especialidade...
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