sexta-feira, 1 de julho de 2011

Síndorme de Tourette


"Os tiques podem ter um status ambíguo, a meio caminho entre convulsões ou sons sem sentido e atos com significado. Embora a tendência dos tiques seja inata na síndrome de Tourette, suas formas particulares tem com freqüência uma origem pessoal ou histórica.Assim, um nome, um som, uma imagem visual, um gesto, vistos talvez anos antes e esquecidos, podem inicialmente ecoar e serem imitados e, a partir daí, preservados na forma estereotipada de um tique. Esses tiques são como hieróglifos, resíduos petrificados do passado, e podem, de fato, com o decorrer do tempo, tornar-se tão hieroglíficos, tão abreviados, a ponto de perderem o sentido (assim como “God be with you” [Deus esteja convosco] foi condensado, esvaziado, após séculos, até o foneticamente semelhante porém inexpressivo “goodbye”[adeus]). Um desses pacientes, que atendi há muito, fazia um barulho trissilábico, explosivo e gutural, que se revelou, em análise, como uma forma acelerada, espremida, de dizer “Verboten !”, numa paródia convulsiva da voz germânica e constantemente proibidora de seu pai. Uma missivista recente, com síndrome de Tourette, me escreveu, após ler uma versão anterior deste texto, que “‘preservar’ [...] é a palavra perfeita para descrever os jogos recíprocos entre a vida e os tiques -- o processo pelo qual aquela se incorpora a estes... É quase como se o corpo touréttico se tornasse um arquivo expressivo -- ainda que embaralhado -- da experiência de vida da pessoa”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário