" Como se dá o trânsito entre as informações do mundo e as informações residentes no corpo? Alguns semioticistas da cultura já haviam apontado o mecanismo da cultura como um sistema capaz de transformar a esfera externa em interna, a entropia em informação, e assim por diante. A cultura não seria uma oposição entre o externo e o interno, mas uma possibilidade de passagem de um âmbito a outro. Mas como se dá esse trânsito?
A imitação tem sido apontada como uma habilidade importante no que se refere aos estudos da cultura e vem sendo tratada como um aspecto fundamental para a compreensão do trânsito entre as informações que estão no mundo e a sua possibilidade de internalização. Blackmore (1999) explica que a imitação envolve:
1-Decisão sobre o que imitar. O que conta como sendo o mesmo ou similar.
2- Transformações complexas de um ponto de vista para outro
3- A produção de ações corporais.
Quando copiamos uns aos outros, algo aparentemente intangível é passado. Essa seria uma chave importante para a organização cultural e este “algo” a ser transmitido, um aspecto importante da questão. Há problemas relativos ao processamento destes mecanismos. Não sabemos, de fato, como algo é copiado e nem tampouco o que é copiado (se o produto, se as suas instruções).
O psicólogo Edward Lee Thorndike (1898) definiu pela primeira vez a imitação como o aprender a fazer um ato através de vê-lo feito. Esta proposta era muito próxima da idéia de visualidade mas, ainda assim, importante para diferenciar-se da contaminação e do aprendizado social. Segundo Blackmore (1999), contágio é diferente de imitação. No meio de uma multidão que ri ou tosse e você começa a rir ou tossir, você não está imitando para aprender a rir. Rir é inato, assim como tossir. Você faz isso como uma resposta de comportamento a um modelo detector de estímulo. Há muitas outras diferenças e a mais difícil de explicar é entre imitação e aprendizado social. Imitação é aprender algo sobre a forma de comportamento através da imitação de outros, enquanto o aprendizado social refere-se a aprender sobre o ambiente através da observação de outros. Assim, os primatas, por exemplo, sabem como ficar apavorados, só precisam aprender o que temer. O pássaro aprende a cantar imitando outros pássaros e, neste caso, há inúmeros protocolos experimentais indicando que, de fato, trata-se de imitação, ou seja, de produção de cultura."
Lindon falou do grupo de pagode japonês e de como uma imitação pode parecer "fora de lugar". Parece que a questão é quando a imitação é feita mas o aprendizado social não, então ela parece deslocada, artificial, assim como o gesto autista.
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