Uma cultura prefere formas fechadas e
estáveis quando está certa de sua própria identidade, da mesma forma que quando
se depara com uma acumulação confusa de fenômenos mal definidos, começa a fazer
listas intermináveis. Há listas por excesso coerente que ainda reúnem entidades
que tem algum tipo de parentesco, e há as listas que são uma reunião de coisas
voluntariamente desprovidas de relações recíprocas, tanto que nesses casos
costuma-se falar em ‘enumeração caótica’. O exemplo máximo de lista
incongruente é o elenco dos animais da enciclopédia chinesa Empório celestial de conhecimentos benévolos,
inventada por Borges, segundo a qual os animais se dividiriam em: “(a)
pertencentes ao imperador; (b) embalsamados;(c)
domesticados; (d) leitões; (e) sereias; (f) fabulosos; (g) cachorros soltos;
(h) incluídos na presente classificação; (i) que se agitam como loucos; (j)
inumeráveis; (k) desenhados com pincel finíssimo de pelo de camelo; (l) etcétera;
(m) que acabam de quebrar o jarrão; (n) que de longe parecem moscas". A
lista se transforma num modo de remisturar o mundo, quase colocando em prática
aquele convite de Tesauro a acumular propriedades pra fazer brotar novas
relações entre coisas distantes ou, em qualquer caso, para colocar um talvez
sobre aquelas já aceitas pelo senso comum.
Umberto Eco, em A
vertigem das listas
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