quinta-feira, 7 de julho de 2011

neurônios-espelho


Toda a conversa sobre imitação e contaminação evocou a idéia dos "neurônios-espelho".


Sandra Blakeslee escreve para o “The New York Times”:

Há 15 anos, num verão em Parma, na Itália, um macaco esperava em um laboratório que os pesquisadores voltassem do almoço. Delicados fios haviam sido implantados na região do seu cérebro que planeja e executa movimentos.

Todas as vezes que o macaco agarrava ou movimentava um objeto, algumas células dessa região do cérebro disparavam e um monitor registrava um som.

Um aluno de pós-graduação entrou no laboratório com uma casquinha de sorvete na mão.

O macaco olhou fixamente para ele e, em seguida, algo espantoso aconteceu: quando o estudante levou a casquinha aos lábios, o monitor soou novamente – mesmo o macaco não tendo feito nenhum movimento, apenas observado o aluno.

Os pesquisadores, chefiados por Giacomo Rizzolatti, um neurocientista da Universidade de Parma, já tinham observado esse mesmo estranho fenômeno com amendoins.

As mesmas células cerebrais disparavam quando o macaco via seres humanos ou outros macacos levarem amendoins à boca ou quando ele próprio fazia isso.

Os cientistas descobriram células acionadas quando o macaco quebrava a casca de um amendoim ou ouvia alguém fazê-lo. O mesmo ocorria com bananas, uvas passa e todo tipo de objetos.

"Demoramos anos para acreditar no que estávamos vendo", diz Rizzolatti.

O cérebro do macaco tem uma classe especial de células, os neurônios-espelho, que disparam quando o animal vê ou ouve uma ação e quando a executa por conta própria.

Mas, se essas descobertas, publicadas em 1996, surpreenderam a maioria dos cientistas, uma recente pesquisa deixou-os estupefatos.

Descobriu-se que os seres humanos têm neurônios-espelho muito mais perspicazes, flexíveis e altamente evoluídos do que os encontrados nos macacos, um fato que teria resultado na evolução de habilidades sociais mais sofisticadas nos seres humanos.

O cérebro humano tem múltiplos sistemas de neurônios-espelho especializados em executar e compreender não apenas as ações dos outros, mas suas intenções, o significado social do comportamento deles e suas emoções.

"Somos criaturas requintadamente sociais", diz Rizzolatti. "Os neurônios-espelho nos permitem captar a mente dos outros não por meio do raciocínio conceitual, mas pela simulação direta. Sentindo e não pensando."

A descoberta está sacudindo várias disciplinas científicas, alterando o entendimento de cultura, empatia, filosofia, linguagem, imitação, autismo e psicoterapia. E também de fatos do cotidiano.

Os neurônios-espelho revelam como as crianças aprendem, por que as pessoas gostam de determinados tipos de esporte, dança, música e arte, por que assistir a cenas de violência na mídia pode ser danoso e por que há quem goste de pornografia.

Encontradas em várias partes do cérebro, essas células disparam em resposta a cadeias de ações relacionadas a intenções.

Algumas são acionadas quando uma pessoa estende a mão para pegar um copo ou observa alguém pegar um copo; outras disparam quando a pessoa coloca o copo sobre a mesa e outras ainda quando a pessoa estende a mão para pegar uma escova de dentes e assim por diante.

Elas reagem quando alguém chuta uma bola, vê uma bola sendo chutada e diz ou ouve a palavra "chutar".

"Quando você me vê executar uma ação, você automaticamente simula a ação no seu cérebro", diz Marco Iacoboni, neurocientista da Universidade da Califórnia, Los Angeles (UCLA), que estuda o tema.

"Circuitos cerebrais o inibem de se mover, mas você entende minhas ações porque tem no seu cérebro um padrão dessa ação baseado nos seus próprios movimentos." 

NEURÔNIOS-ESPELHO EM TRÊS ATOS
1. Resposta aos outros: ela é essencial para a tomada de atitude em situações de perigo.
2. Imitação: extremamente importante para os processos de aprendizagem. É imitando que começamos a falar, a andar e até mesmo a sorrir.
3. Empatia: a tendência para sentir o mesmo que uma pessoa na mesma situação é fundamental na construção dos relacionamentos. E explica, em grande parte, por que devemos manter por perto quem eleva o nosso astral.

Crianças com autismo têm grande dificuldade para se expressar, compreender e imitar sentimentos como medo, alegria ou tristeza. Por isso se fecham num mundo particular e acabam desenvolvendo sérios problemas de socialização e aprendizado. Não à toa, cientistas da Universidade da Califórnia, em Los Angeles, nos Estados Unidos, resolveram investigar a relação entre os neurônios-espelho e a doença.
 

2 comentários:

  1. "Circuitos cerebrais o inibem de se mover, mas você entende minhas ações porque tem no seu cérebro um padrão dessa ação baseado nos seus próprios movimentos."

    Me passa a ideia de equivalência. Como o Tiago falou, nunca vai ser "aquilo". Baseado na própria experiência, nós buscamos uma equivalência daquilo sentido.

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  2. sim, equivalência. Mas aqui estamos falando em equivalências cinestésicas, da ordem da imitação da ação/movimento que se desenrola no presente.

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